Crise silenciosa: Ambev enfrenta queda histórica nas ações em 2025

Queda nas ações da Ambev expõe crise profunda no mercado de cerveja

A crise do metanol, que impactou fortemente os destilados no mercado brasileiro, parecia ser uma oportunidade para a Ambev, líder no setor de cervejas. No entanto, a realidade tem se mostrado oposta. A companhia perdeu cerca de R$ 11,6 bilhões em valor de mercado entre 29 de setembro e 9 de outubro, mesmo sem comercializar bebidas destiladas como vodka, gin e cachaça — foco das contaminações.

Especialistas apontavam para uma possível migração de consumo dos destilados para as cervejas. Contudo, os dados do mercado mostram que essa “corrida pela cerveja” não se concretizou. As ações da Ambev, dona de marcas como Skol e Brahma, acumulam queda de 12% nos últimos seis meses e variação modesta de apenas 2% no ano.

Um relatório da XP Investimentos intitulado “Sem Happy Hour” trouxe um panorama preocupante. A corretora rebaixou a recomendação das ações de “neutra” para “venda”, sinalizando desconfiança em relação ao desempenho da empresa. Apenas 3 de 20 corretoras ouvidas pela Bloomberg recomendam a compra dos papéis da companhia.

Frio intenso derruba vendas

O primeiro fator de impacto está diretamente ligado ao clima. O inverno de 2025 foi o mais frio dos últimos 30 anos em cidades como São Paulo, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Em períodos de temperaturas baixas, a procura por cerveja tende a cair. E foi o que aconteceu: o segundo trimestre registrou queda de 9% nas vendas em comparação a 2024, e o terceiro trimestre deve fechar com recuo de 6,1%.

A expectativa de analistas é que somente no segundo trimestre de 2026 — impulsionado pela Copa do Mundo — o mercado volte a aquecer.

Geração Z e estilo de vida “wellness” mudam o jogo

A mudança de comportamento do consumidor, especialmente entre os mais jovens, também pressiona o setor. A geração Z tem adotado hábitos mais saudáveis, com menor consumo de bebidas alcoólicas. Segundo relatório da MindMiner, apenas 45% dos maiores de idade desse grupo consomem álcool — menor índice entre as gerações analisadas.

A tendência do estilo de vida “wellness”, que promove alimentação saudável e práticas esportivas, tem impacto direto nas vendas. A Ambev tenta reagir com o aumento da produção de cervejas sem álcool, que registraram crescimento de 600% no último ano. No entanto, esse avanço ainda não compensa a desaceleração geral do setor.

Outro ponto de atenção é o uso crescente de medicamentos como Ozempic e Mounjaro, utilizados para controle de apetite e emagrecimento. Estudos iniciais indicam que esses remédios também reduzem o desejo por bebidas alcoólicas. A quebra de patente da Ozempic, prevista para julho de 2026, pode popularizar o produto e acelerar essa mudança de hábito no Brasil.

Apesar disso, fontes internas da empresa minimizaram os impactos da geração Z e dos inibidores de apetite, afirmando que o padrão de consumo ainda se mantém e que não há dados concretos que comprovem correlação direta entre essas tendências e a queda nas vendas.

Concorrência da Heineken pressiona margens

O terceiro fator que pesa contra a Ambev é o avanço da Heineken. A rival ampliou significativamente sua capacidade produtiva com a expansão da cervejaria em Igarassu (PE), triplicando a produção. A estratégia agressiva da concorrente afeta o volume de vendas e a capacidade da Ambev de ajustar preços.

Mesmo com o aumento nos custos de produção, a Ambev repassou os valores ao consumidor ainda no segundo trimestre, enquanto outras empresas seguraram os reajustes. Agora, segundo fontes da companhia, será a vez da Ambev manter os preços, o que pode trazer vantagem competitiva no curto prazo

Apesar de escapar diretamente da crise do metanol, a Ambev enfrenta uma tempestade de fatores que pressionam suas ações: queda no consumo, mudanças de comportamento, concorrência acirrada e novos riscos no horizonte. O cenário exige atenção de investidores e consumidores atentos às tendências do setor.

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